quinta-feira, 1 de março de 2007

De Invenções?


Não gosto dessa dor no peito que você me causa.
Dói mais que uma cicatriz de cirurgia. Dói mais que um câncer. E só dói porque eu deixo. Porque lhe dou muito mais espaço do que você merece, do que você pede.
Claro, aliás, você não pede nada. Você não quer nada. Você nem sabe de nada.
Você é sincero. Ótimo isso, não?
Você sai falando o que quer, o que deve, o que pode, o que não deve nem pode, escoltado pela pseudo-sinceridade que você diz ser necessária.

Pois eu queria que você mentisse. Queria que me ligasse. Queria que me procurasse. Que me mandasse torpedos, e-mails, flores! Até cartas!
Podia chegar de surpresa no meu trabalho, com cara de moleque, dizendo que teve saudade.
Podia me pedir pra visitar com você uma tia bem velhinha que fazia aniversário numa casa de repouso.
Podia segurar a minha mão bem forte. Podia me dar um tantinho de FELICIDADE.
Podia me encher de beijos, por todas as partes, perguntando se estava bom.
Podia dizer que sou cheirosa, que adora se aproximar de mim.
E podia acrescentar que não sabe como viveu todos esses anos sem me conhecer...
E podia dizer que tem saudade até da minha infância, que você não viu, mas que deve ter sido de uma menina linda, fofinha, meiga.
E ainda você podia falar que o que sente de bom perto de mim nunca sentiu com ninguém.

Você podia me contar do seu trabalho, dar detalhes que eu não tivesse noção do que fossem. Podia falar horas sobre a Bolsa de Valores, sobre o preço alto daquele produto, o valor daquele maldito imposto injusto. Podia me mostrar a última planilha de sua autoria, o itinerário daqueles caminhões todos. Podia, sim. E também podia falar mil horas as coisas todas que você anda aprendendo no seu curso. Podia falar até da Filosofia que eu não conheço, do Português que eu já sei.

Você podia me convencer a ir ver aquele filme de ficção científica que eu simplemente detesto por definição. E podia pegar na minha mão, de repente, durante a sessão, sem me largar. Podia querer comer feijoada no verão, tomar vinho quente, tomar chuva no frio. E podia pedir pizza de alho e querer falar perto de mim o resto da noite. Bem perto. E assim pertinho podia dizer umas coisas bem bonitinhas, bem falsinhas, de encher o coração de uma romântica.

Podia vir e ficar. Pedir pra ficar, dizendo que estava muito cansado pra dirigir de volta. Falar que, na verdade, você só queria ficar comigo, sem fazer nada. Podia não exigir nada. Podia dar aquele sorriso, que mostra os seus dentes tão branquinhos... Podia me abraçar bem apertado, só.
Podia ficar me olhando por vários minutos, mudo. Podia pedir carinho, eu daria. Podia pedir tudo. Eu daria quase tudo.

Afinal, até suas mentiras me interessam... E eu não gosto dessa dor que vai no meu peito.
E não gosto de não saber sequer se gosto de você. E odeio essa dor. Odeio mais ainda por saber que a culpa de ela estar aqui dentro de mim é só minha. Você não tem culpa nenhuma e nem sei se você existe. Nem sei se inventei você.

Lu Longo

3 comentários:

Anônimo disse...

Foi vc que escreveu isto??? Nossa, parabéns... gostei muito. Parece real....

FELICIDADEetrist... disse...

Mas quem é vc, Anônimo??
Ah, sim, o texto é meu.

Anônimo disse...

Então você está super apaixonada!!!!!!