sábado, 3 de março de 2007

Do Tango que não dançamos

Estamos assim: você não me escreve, eu não te telefono, a gente não se fala. Aquela dança só podia mesmo dar nisso... Eu dava um passo pra frente; você, pra trás. Se me via recuar, você avançava. Um bailado tão diferente do que conheço... Onde estava a música?

Se eu tentava ir um pouco mais em sua direção, você se apavorava. Medo de perder o ritmo... Afastava-se. Sumia. Me deixava ali plantada, me dava o cano. Se eu ficava na minha, dava um tempo, você me procurava daquele jeito sutil, fazendo de conta que nem estava muito interessado... E eu fingia que estava tudo bem, que não ligava... E deixava você se aproximar. E a dança continuava. Pra depois de um pouco, bem pouco, você ir embora de novo. E suas desculpas tomarem seu lugar alguns dias ou semanas depois.

Sempre te dava espaço. Sempre te dava confiança. E dava minha atenção, meu cuidado. É, não posso deixar de te dizer isso agora. Porque sempre fazia isso tudo sem muito alarde. Eu sempre dava um ar de naturalidade a tudo que fazia. Mas tinha um custo, um empenho meu. E nunca deixava isso claro a você. E você não prestava atenção pra perceber... E não retribuía.

Você se gabava de ser sincero e claro. Você perdia tempo se explicando e se justificando, sem notar que a importância não estava somente nisso. Poderia evitar a necessidade de se explicar o tempo todo. E eu poderia ter sido mais explícita, mais direta, mostrando do que precisava. Os passos ficaram trocados e tropeçamos?

Deixa pra lá... Aquilo não era uma dança. Não era, querido, não era... Era uma luta. E nela perdemos os dois.

Mas...

... você aceitaria dançar comigo?

Lu Longo

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